UTILIZAÇÃO DA CADERNETA DA CRIANÇA NA REDE DE SAÚDE E SUAS INTERFACES NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Saúde Pública. Saúde da Criança. Atenção Primária à Saúde. Gestão em Saúde. Desenvolvimento Infantil.
Introdução: A Caderneta da Criança (CC) é essencial para o acompanhamento do desenvolvimento infantil, o empoderamento familiar e a comunicação entre profissionais de saúde. Desde 2018, há escassez desse documento em diversos municípios brasileiros. Recentemente, foi lançada a versão digital da CC, mas os desafios estruturais da Atenção Primária à Saúde (APS), como a ausência de recursos tecnológicos, reforçam a importância de compreender os limites e potencialidades do uso da versão física no contexto local. Objetivo: Analisar a utilização da CC no município de Lavras, Minas Gerais. Metodologia: Estudo transversal, de abordagem mista, vinculado ao projeto “Caderneta Saúde da Criança: implicações sobre a segurança alimentar e nutricional na primeira infância”. Na etapa quantitativa, 324 responsáveis por crianças atendidas no município foram entrevistados. O banco de dados foi duplamente digitado e validado nos softwares Epi-Info e Microsoft Excel. As análises descritivas foram conduzidas no Jamovi 2.3, e o teste exato de Fisher identificou associações estatísticas. A etapa qualitativa consistiu em entrevistas semiestruturadas com profissionais da rede de saúde de Lavras, interpretadas com base na abordagem de Análise de Conteúdo de Bardin. Resultados: A maioria dos responsáveis (94,8%) era do sexo feminino. Embora 86,4% conhecessem a CC, somente 68,4% compreendiam seu conteúdo. O pediatra foi a única categoria profissional com maioria de respostas afirmativas quanto ao preenchimento da CC (88,5%). O teste exato de Fisher mostrou associações significativas entre conhecimento da CC e parentesco, bem como entre conhecimento do conteúdo da CC e estado civil, etnia e escolaridade. A análise qualitativa revelou dificuldades como sobrecarga de trabalho, fragmentação do cuidado, substituição da CC pelo Cartão Simplificado e ausência de protocolo municipal. Os profissionais também relataram a desvalorização da Atenção Primária no município, marcada pela priorização do atendimento especializado, baixa adesão à puericultura e pouca integração multiprofissional. Conclusão: Os achados evidenciam desafios na utilização da CC na APS, que deveria ser o principal espaço para a puericultura. Reforça-se a necessidade de políticas públicas que valorizem a atenção primária e incentivem estratégias para ampliar a adesão à CC como ferramenta de cuidado infantil. A ampliação do acesso à versão digital e a implementação de protocolos locais são importantes avanços, mas a limitada estrutura das UBS, com ausência de internet e computadores, indica que a caderneta física ainda é fundamental para garantir o monitoramento e a promoção da saúde infantil.