Caracterização macro e microscópica de casos de salmonelose em bovinos em Minas Gerais (2014-2024)
Salmonella sp., sepse, bezerros
A salmonelose é uma doença aguda que acomete bovinos de diversas idades, com as formas entérica ou septicêmica, especialmente em sistemas de criação intensiva de bovinos leiteiros. Este trabalho objetiva caracterizar os casos de salmonelose diagnosticados em bovinos no período de 2014 a 2024 no Setor de Patologia Veterinária da UFLA (SPV-UFLA), quanto a achados epidemiológicos, macroscópicos e histológicos. Realizou-se estudo retrospectivo e prospectivo dos casos de necrópsia de bovinos das regiões Campo das Vertentes, Oeste, Sul e Sudoeste de Minas Gerais de 2014 a 2024 no SPV-UFLA. No período foram realizadas 865 necrópsias de bovinos, dos quais 53 (6,1%) foram diagnosticados com salmonelose. Com base nos achados macro e microscópicos 47 casos foram classificados como salmonelose septicêmica e seis tiveram alterações exclusivamente entéricas. Os bovinos acometidos foram oriundos de 28 municípios distintos, refletindo ampla distribuição geográfica da doença. Bovinos destinados à produção leiteira foram mais afetados, com 69,8% dos casos e destaque para a raça Holandesa (60,3%). Quanto ao sexo, observou-se predominância de fêmeas (86,8%), o que foi atribuído à manutenção das fêmeas no plantel. Em relação à idade, a maioria dos casos ocorreu em bezerros lactentes (41,5%) e desmamados de 3 a 6 meses (30,2%). Os casos ocorreram em todos os meses do ano, com picos no período mais quente, de setembro a fevereiro, o que pode estar relacionado a condições ambientais favoráveis à multiplicação bacteriana, como umidade e temperatura elevadas, bem como prejuízo na imunocompetência atrelada a estresse térmico. Em todos os casos foi relatada medicação, geralmente direcionada a pneumonia ou tristeza parasitária bovina, indicando falhas em diagnóstico e escolha da medicação. Os principais achados de necrópsia foram mucosas pálidas (9,4%) ou amareladas (37,7%), alterações hepáticas (66%) como hepatomegalia e coloração amarelada; espessamento da parede da vesícula biliar e bile espessa (47,2%); esplenomegalia e protrusão do parênquima esplênico ao corte (56,6%); avermelhamento pulmonar com exsudação de líquido ao corte (56,6%), e alterações intestinais, como evidenciação de placas de Peyer (52,8%). A histopatologia revelou infiltrado linfoplasmocítico em vesícula biliar; necrose fibrinoide e infiltrado linfo-histiocítico em fígado e baço; trombose, deposição de fibrina e hiperemia pulmonares; necrose fibrinoide e hiperemia em linfonodos; e necrose intestinal com infiltrado linfo-histiocitário; além de coleções bacterianas intralesionais em intestino, fígado, baço e pulmão. Foi realizada cultura microbiológica em quatro casos e marcação imuno-histoquímica em três, confirmando a infecção por Salmonella sp. e reforçando a correlação clínico-patológica. A análise dos dados deste estudo demonstra a endemicidade da doença na região ao longo dos anos, além de fornecer dados epidemiológicos, clínicos e patológicos que podem contribuir para estudos futuros e aprimoramento de estratégias de diagnóstico, prevenção e controle da salmonelose nos rebanhos bovinos, bem como contribuir para o fortalecimento de medidas mais eficazes de prevenção da doença, bem como promoção de bem-estar animal e promoção de saúde no contexto de Saúde Única.