Ruptura do Ligamento Cruzado Cranial em Gatos: Estudo Retrospectivo
felinos, articulação do joelho, doença degenerativa
O ligamento cruzado cranial (LCCr) tem como função impedir o movimento cranial da tíbia em relação ao fêmur e limitar sua rotação interna, além de prevenir a hiperextensão da articulação do joelho. A ruptura/insuficiência do LCCr é uma lesão frequente nos cães, mas ainda pouco esclarecida em gatos. Acredita-se que existam dois grupos distintos na espécie felina que podem manifestar lesão no LCCr: no primeiro grupo, a ruptura ligamentar está associada ao fator traumático evidente e geralmente acompanhada por lesões em outras estruturas periarticulares; no segundo grupo, constituído por gatos predispostos, a lesão do LCCr está associada a fatores degenerativos e sem histórico de trauma. Este estudo está dividido em dois capítulos: o primeiro trata de uma breve introdução geral e referencial teórico a respeito da ruptura do LCCr em gatos, com o intuito de justificar os objetivos e as hipóteses formuladas no trabalho científico. O segundo capítulo está apresentado na forma de artigo científico, cujo objetivo foi avaliar as características epidemiológicas, clínicas, histológicas e radiográficas em gatos com ruptura do LCCr a fim de elucidar a afeção nesta espécie. Foi realizado levantamento retrospectivo de 26 gatos com ruptura do LCCr. Após coleta e levantamento dos dados etiológicos, epidemiológicos, clínicos e radiográficos, os gatos foram divididos em grupos de acordo com a fase de vida, escore corporal, comportamento indoor/outdoor, claudicação, trauma e presença de sinais de degeneração. Em relação à origem da lesão do LCCr foram criados 2 grupos: gatos com ruptura do LCCr por lesão traumática evidente na articulação do joelho (G1) e gatos com ruptura isolada do LCCr sem histórico de trauma importante (G2). Nas radiografias foram realizadas mensuração do ângulo do platô tibial (APT) e avaliados sinais de degeneração quando presentes, em estudo duplo cego. Foram obtidas amostras histológicas de quatro gatos com ruptura do LCCr da população estudada. Para análise estatística foram criadas tabelas de contingência e realizados teste de associação utilizando variáveis qualitativas nominais, Teste Qui-Quadrado de Partição e Teste Exato de Fisher. Foi observada associação positiva (p<0,05) entre gatos com comportamento indoor, histórico traumático inexistente ou leve e presença de sinais radiográficos de degeneração com o grupo que apresentou ruptura isolada do LCCr (G2). A mensuração do APT indicou que a ruptura do LCCr pode sofrer influência da inclinação excessiva do platô tibial nos gatos. Na avaliação histopatológica foram observadas desorganização de fibras colágenas, aumento do número de fibrócitos, metaplasia condroide, infiltrado inflamatório monocelular, áreas de hemorragia com neovascularização e áreas multifocais de calcificação. É possível concluir que alterações degenerativas podem estar presentes no LCCr dos gatos, suportando a hipótese de que a degeneração pode também estar relacionada à etiologia da ruptura do LCCr nesta espécie.