FUNÇÃO VENTRICULAR DIREITA EM FELINOS DOMÉSTICOS SAUDÁVEIS NÃO SEDADOS: AVALIAÇÃO PELA ECOCARDIOGRAFIA BIDIMENSIONAL E FEATURE TRACKING
Gatos, ecocardiografia, miocárdio, coração, cardiologia
Ao longo dos anos os felinos domésticos têm ganhado cada vez mais espaço nos lares de todo o mundo. Características comportamentais da espécie, o crescimento vertical das cidades e outras mudanças socioeconômicas parecem contribuir para o crescimento do número de gatos que em alguns países já superam o de cães. As mudanças socioeconômicas também contribuíram para maior sobrevida dos animais de companhia e, consequentemente, para maior incidência de doenças crônicas e degenerativas como as cardiopatias. O exame ecocardiográfico é uma modalidade diagnóstica essencial para a avaliação do paciente cardiopata, entretanto a maioria dos estudos publicados tem foco no ventrículo esquerdo. Trabalhos recentes têm demonstrado que o ventrículo direito foi subestimado, que tem grande importância na fisiologia circulatória e que está envolvido na fisiopatologia de doenças cardiopulmonares e do lado esquerdo do coração. Estes achados encorajam a realização de novos estudos que buscam compreender melhor as câmaras cardíacas direitas e fornecer valores de referência. Este trabalho tem como objetivo avaliar a função ventricular direita de gatos clinicamente saudáveis em diferentes faixas etárias por meio da ecocardiografia convencional e Speckle Tracking. Foram incluídos no estudo 88 gatos. Os animais foram divididos em três grupos de diferentes faixas etárias, sendo eles: G1 = filhotes (≤ 1 ano); G2 = jovens adultos (1 a 6 anos), G3 = adultos maduros (7 – 10 anos). Na ecocardiografia convencional foram realizadas medidas lineares e índices de função miocárdica (variação fracional da área, excursão sistólica do plano anelar tricúspide, índice de performance miocárdica e Doppler tecidual). Por meio do Speckle tracking bidimensional foram obtidos os índices strain e strain rate da parede livre do ventrículo direito. As medidas lineares do átrio direito, ventrículo direito e parede livre do ventrículo direito diferiram entre os grupos, sendo menores valores encontrados nos filhotes. As variáveis de função miocárdica convencionais não diferiram com a idade, mas a ecocardiografia Speckle tracking demonstrou maiores valores de strain (G1: 27,12 ± 4,26; G2: 20,90 ± 2,59; G3: 23,57 ± 4,63; p<0,000) e strain rate (G1: 3,72 ± 0,72; G2: 2,88 ± 0,42; G3: 2,92 ± 0,71; p<0,0001) globais da parede livre do ventrículo direito nos animais do G1. A avaliação da deformação dos segmentos miocárdicos indicam que, na parede livre do ventrículo direito de gatos saudáveis, a região basilar tem maior contribuição para contração miocárdica. Conclusão: Em gatos, poucas são as variações ecocardiográficas convencionais determinas pela idade, entretanto os filhotes apresentam valores de deformação mais altos que os adultos. Valores de referência preliminares para gatos saudáveis não sedados podem ser estabelecidos a partir dos resultados deste estudo