Aspectos sociodemográficos, comportamentais e psicológicos de estudantes de Medicina Veterinária e da grande área de Ciências Agrárias durante a pandemia COVID-19
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A pandemia COVID-19 provocou uma mudança drástica e inesperada em todo o mundo, exigindo medidas de distanciamento social gerando fortes consequências sobre o sistema educacional. Grande parcela das escolas e faculdades tiveram que aderir rapidamente ao sistema de ensino remoto emergencial (ERE). Os impactos dessas ações ainda são pouco conhecidos. No ensino superior especificamente, a maior parcela dos estudos realizados envolve estudantes dos cursos da área de saúde humana. Porém, outros grupos tais como estudantes de Medicina Veterinária e da grande área de Ciências Agrárias também estão expostos a fatores ambientais semelhantes. Alterações da saúde mental tem sido consideradas problemas de saúde pública no mundo pandêmico e, portanto, de extrema relevância não apenas no âmbito profissional como também em ambientes acadêmicos. Essa tese foi dividida em dois capítulos: 1) Estudo longitudinal, comparando o risco de Síndrome de Burnout (SB), a frequência de atividade física e a eficácia acadêmica de estudantes de medicina veterinária e de outros cursos da área de Ciências Agrárias antes e durante a pandemia COVID-19. Setenta e sete universitários responderam a um questionário online. O domínio de exaustão emocional apresentou melhora significativa ao longo do tempo em mulheres que declararam praticar atividade física. Efeito semelhante foi observado para o domínio descrença tanto para homens como para mulheres. A eficácia acadêmica aumentou ao longo do tempo sem interferência dos fatores sexo ou prática de atividade física. Não houve influência da modalidade do curso de graduação. 2) Estudo transversal com estudantes de todo o Brasil a fim de avaliar a prevalência de SB, Qualidade de Vida (QV), frequência de atividade física e percepção de aprendizagem online (OL) durante a pandemia COVID-19, considerando características sociodemográficas e área do curso de graduação (Ciências Agrárias, Ciências da Saúde, Ciências Humanas e Sociais, Ciências Exatas). Análise de cluster foi utilizada para determinação de grupos de indivíduos com características semelhantes. Observou-se três perfis diferentes de estudantes: grupo com “baixa QV” (composto de estudantes mais jovens, principalmente do sexo feminino, com maior frequência de distúrbios psicológicos, além de maiores escores de Burnout, menor QV e pior percepção de OL); grupo com “QV intermediária” (composto por participantes com idade aproximada de 45 anos, principalmente homens, casados, com filhos e que trabalhavam além de estudar); e o grupo “alta QV” (composto por estudantes com maiores escores em todos os domínios do questionário de QV, melhor percepção de OL, maior frequência de atividade física e menores escores no questionário de SB). Os resultados demonstraram diferenças significativas entre as grandes áreas do conhecimento, em que estudantes da área de Saúde apresentaram melhores escores em domínios psicológicos em relação às demais áreas. Já estudantes das áreas de Ciências Exatas apresentaram melhor desempenho em relação à OL. De forma geral, a partir da análise dos dois capítulos foi possível concluir que a prática de atividade física regular pode ser uma importante ferramenta na prevenção das alterações de saúde mental em universitários de Medicina Veterinária e Ciências Agrárias. Observou-se surpreendentemente que o desempenho acadêmico melhorou, bem como o risco de SB reduziu durante a pandemia. Porém, observou-se que estudantes mais jovens e principalmente do sexo feminino apresentaram maior frequência de distúrbios psicológicos, maior risco de SB, pior QV e pior OL. Tais achados fornecem subsídios para que gestores educacionais possam traçar planejamentos estratégicos no enfrentamento das dificuldades acadêmicas durante o período de pandemia.